terça-feira, 22 de março de 2011

OPERADORA DE USINA DIZ TER MENTIDO SOBRE MANUTENÇÃO.

Dez dias antes do acidente na central nuclear de Fukushima, a companhia Tokyo Electric Power (Tepco), operadora da usina, admitiu que havia mentido nos relatórios de controle de suas instalações.
Nos dias precedentes ao terremoto - que foi seguido de um tsunami, arrasando o nordeste do Japão e danificando gravemente a central nuclear de Fukushima 1-, a Tepco entregou às autoridades um documento no qual confessava ter manipulado os dados sobre manutenção. A empresa afirmava que havia inspecionado cerca de 30 peças que, na verdade, não foram verificadas.
A Tepco disse que, em 11 anos, não inspecionou a peça que alimenta uma válvula de controle da temperatura do reator, apesar dos técnicos, que se contentaram em fazer apenas controles rotineiros, garantirem o contrário. Outras peças, cujo controle não é necessariamente obrigatório, tampouco foram submetidas a uma inspeção exaustiva, sobretudo as partes ligadas ao sistema de resfriamento e ao fornecimento elétrico de emergência.
As autoridades solicitaram o relatório à Tepco justamente para saber se o procedimento padrão de segurança estava sendo respeitado. "O plano de controle das instalações e a gestão da manutenção eram inapropriados", concluiu a Agência de Segurança Nuclear, que assegurou que "a qualidade das inspeções era insuficiente".
Antes da catástrofe, a agência reguladora do setor havia alertado a Tepco, exigindo uma mudança de comportamento e a aplicação de um novo plano de manutenção antes de 2 de junho. A tragédia de 11 de março provocou a parada dos seis reatores da central Fukushima 1, interrompeu a alimentação elétrica, bloqueou os geradores diesel de emergência e levou ao colapso o sistema de resfriamento.
Essa cadeia de eventos provocou uma série de acidentes de gravidade crescente, que as equipes da Tepco ainda combatem com a ajuda do Exército e dos bombeiros para evitar que a situação em quatro dos reatores se torne totalmente incontrolável. "Não é possível dizer em que medida as falhas constatadas sobre a manutenção, e o controle das instalações influenciaram ou não a cascata de problemas originados pelo terremoto", indicou a Agência de Segurança. Ela prevê abrir uma investigação exaustiva para apurar as causas do acidente nuclear, quando a crise for superada. Neste momento, a prioridade é evitar o pior.
A qualidade da rede de distribuição elétrica da Tepco é, de maneira geral, boa. Os cortes de energia em Tóquio, cidade que é abastecida pela rede, são praticamente inexistentes. Mas a imagem da companhia já havia sido machada no passado por uma série de escândalos. Em 2002, a Tepco precisou interromper temporariamente o funcionamento de seus 17 reatores nucleares de água quente (BWR), dois deles na central de Fukushima, para uma inspeção, após uma denúncia de maquiagem nos relatórios. O caso custou o cargo do diretor geral e de seu braço direito.

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